A ruptura do menisco medial representa uma das lesões mais frequentes do joelho, afetando pessoas de diversas faixas etárias e níveis de atividade física.
Uma dúvida recorrente entre pacientes diagnosticados com esta condição é: ruptura do menisco medial precisa de cirurgia?
Este questionamento não possui resposta única, pois depende de diversos fatores, como a gravidade da lesão, idade do paciente, nível de atividade física e presença de outras condições associadas.
Abordaremos neste artigo a anatomia e função dos meniscos, quando o tratamento cirúrgico é necessário, as opções de tratamento conservador disponíveis, evidências científicas atuais e o processo de recuperação.
O objetivo é fornecer informações baseadas em pesquisas para melhor compreensão desta condição e suas abordagens terapêuticas.
O que são os Meniscos
Os meniscos são estruturas fibrocartilaginosas em forma de C localizadas dentro do joelho que funcionam como amortecedores naturais, absorvendo impactos durante atividades físicas e distribuindo o peso corporal uniformemente sobre a superfície articular.
Além disso, eles ajudam a lubrificar a articulação, reduzindo o atrito entre as superfícies articulares e nutrindo a cartilagem.
O joelho possui dois meniscos: o medial (na parte interna) e o lateral (na parte externa). O menisco medial é maior e possui uma inserção mais firme em comparação com o menisco lateral, tornando-o mais suscetível a lesões.
Sintomas da Ruptura do Menisco Medial: Como Identificar os Sinais Iniciais
A ruptura do menisco medial costuma apresentar sintomas bem específicos. Reconhecer esses sinais nos estágios iniciais pode evitar complicações futuras, como lesões na cartilagem e o surgimento precoce da artrose no joelho.
A forma como os sintomas surgem varia conforme o tipo de lesão — se foi provocada por trauma ou desgaste — e também de acordo com fatores como idade e nível de atividade da pessoa.
Dor na Parte Interna do Joelho e Inchaço
O sintoma mais comum é a dor localizada na parte medial do joelho. Essa dor costuma ser pontual e se intensifica com movimentos que exigem torção, agachamento ou ao subir escadas.
Em casos de lesões traumáticas, é frequente o relato de um estalo no momento do machucado, seguido de inchaço nas primeiras 24 horas.
Em pessoas mais velhas, quando a ruptura é causada por desgaste natural, a dor pode surgir mesmo sem trauma, geralmente após movimentos simples do dia a dia, como levantar de uma cadeira.
O inchaço, também chamado de derrame articular, é resultado do acúmulo de líquido inflamatório dentro da articulação, que tende a piorar após atividades físicas.
Quando a lesão se torna crônica, pode haver espessamento da membrana sinovial, contribuindo para rigidez ao acordar.
Travamento e Sensação de Instabilidade
Em cerca de um terço dos casos, o paciente relata que o joelho “trava”. Isso acontece quando fragmentos do menisco se deslocam e impedem que o joelho estenda completamente.
Durante esse bloqueio, é comum escutar estalidos, especialmente ao realizar flexões mais profundas.
Outra queixa recorrente é a sensação de que o joelho vai “falhar”, algo mais comum quando a lesão vem acompanhada de problemas no ligamento cruzado anterior (LCA).
Dificuldade de Movimento e Perda de Massa Muscular
Limitações na movimentação também são comuns. O paciente pode não conseguir estender totalmente o joelho ou dobrá-lo além de 90 graus.
Com o tempo, a dor constante e o uso reduzido da perna podem levar à atrofia do músculo da coxa, o quadríceps, sendo possível observar diferença entre as coxas ao comparar os dois lados.
Alterações na forma de caminhar, como mancar ou apoiar mais peso em uma das pernas, aparecem em cerca de 25% dos casos sem tratamento.
Exames Clínicos e Avaliação Médica
Durante a consulta com o ortopedista, a dor à palpação na linha medial do joelho é um achado frequente, presente em mais de 80% dos casos. T
estes físicos como o de McMurray e o de Thessaly ajudam a reproduzir os sintomas e confirmar o comprometimento do menisco.
Em pessoas idosas, a dor à noite e a rigidez podem se confundir com sinais de artrose, sendo necessário o uso da ressonância magnética para diferenciar os quadros.
Quando Procurar um Especialista
Se os sintomas persistirem por mais de 72 horas, especialmente se houver dificuldade para andar ou movimentar o joelho, é recomendável buscar especialistas para obter orientação sobre a necessidade de cirurgia.
Pacientes que praticam esportes ou sofreram trauma direto devem priorizar essa investigação o quanto antes. Estudos mostram que atrasar o diagnóstico aumenta significativamente o risco de danos permanentes à cartilagem.
Ruptura do Menisco Medial Precisa de Cirurgia?
A questão sobre se a ruptura do menisco medial precisa de cirurgia é complexa e individualizada.
Segundo evidências científicas recentes, nem todas as rupturas necessitam de intervenção cirúrgica. A decisão terapêutica depende de vários fatores:
- Localização e extensão da lesão.
- Idade e nível de atividade do paciente.
- Presença de sintomas como travamento, instabilidade ou inchaço recorrente.
- Resposta ao tratamento conservador inicial.
Em um estudo realizado no Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, analisando 140 pacientes com lesão meniscal, observou-se que o menisco medial foi acometido em 92% dos casos, enquanto o menisco lateral em apenas 8%.
Este estudo também revelou que o tipo mais comum de lesão é a radial na transição entre o corno posterior e o corpo do menisco, representando aproximadamente 76,5% dos casos.
O tratamento não cirúrgico geralmente inclui repouso, aplicação de gelo, medicamentos anti-inflamatórios, fisioterapia e, em alguns casos, infiltrações.
Esta abordagem conservadora frequentemente é eficaz para lesões pequenas, estáveis ou em pacientes com baixa demanda física.
Por outro lado, a cirurgia pode ser recomendada quando:
- A lesão causa bloqueio mecânico do joelho.
- Há instabilidade articular significativa.
- O tratamento conservador não proporciona alívio dos sintomas após 6-12 semanas.
- A lesão é extensa ou localizada em área com pouca vascularização.
Evidências Científicas sobre Tratamentos
As pesquisas científicas sobre o tratamento da ruptura do menisco medial têm evoluído consideravelmente nos últimos anos.
Um estudo publicado no New England Journal of Medicine comparou a meniscectomia artroscópica parcial com cirurgia simulada (sham surgery) em pacientes com lesão degenerativa do menisco medial sem osteoartrite.
Surpreendentemente, os resultados após 12 meses não mostraram diferenças significativas entre os grupos em termos de função do joelho e dor.
Os pesquisadores avaliaram 146 pacientes com idades entre 35 e 65 anos e sintomas de lesão degenerativa do menisco medial, divididos aleatoriamente entre o grupo de meniscectomia parcial e o grupo de cirurgia simulada.
Após um ano, não foram observadas diferenças significativas nas pontuações dos questionários Lysholm e WOMET, que avaliam a função do joelho, nem na escala de dor após exercício.
O consenso da ESSKA (European Society for Sports Traumatology, Knee Surgery and Arthroscopy) recomenda distinguir entre lesões traumáticas e degenerativas do menisco.
Para lesões traumáticas, especialmente em pacientes jovens, a preservação do menisco através de reparo é frequentemente recomendada. Para lesões degenerativas, o tratamento conservador pode ser a primeira opção.
Tipos de Abordagens Cirúrgicas e Recuperação
Quando a cirurgia é necessária para ruptura do menisco medial, existem diferentes abordagens:
- Meniscectomia parcial: remoção apenas da parte danificada do menisco, procedimento mais comum realizado por artroscopia
- Reparo meniscal: sutura da região lesionada, preservando o tecido, indicada principalmente para lesões na zona vascularizada
- Transplante meniscal: nos casos mais graves com perda significativa do menisco.
O consenso atual na ortopedia é preservar ao máximo o tecido meniscal, principalmente em pacientes jovens, devido ao seu papel crucial na biomecânica do joelho e na prevenção de degeneração articular.
Recuperação
A recuperação após tratamento de ruptura do menisco medial varia conforme a abordagem utilizada.
No dia da cirurgia, o paciente recebe medicações analgésicas, e o membro deve permanecer esticado. A aplicação de gelo a cada 2 horas por 20 minutos ajuda a reduzir dor e inflamação.
No tratamento conservador, o processo de reabilitação geralmente dura de 4 a 6 semanas, focando no fortalecimento muscular, controle da dor e recuperação da amplitude de movimento.
Após a cirurgia, o período de recuperação pode se estender por 3 a 6 meses, dependendo do procedimento realizado.
A meniscectomia parcial geralmente permite retorno mais rápido às atividades, enquanto o reparo meniscal exige reabilitação mais cuidadosa.
Conclusão
A ruptura do menisco medial precisa de cirurgia? Como vimos, a resposta depende de múltiplos fatores individuais.
Nem todas as lesões requerem intervenção cirúrgica, e o tratamento conservador pode ser eficaz em muitos casos.
A decisão deve ser baseada na avaliação criteriosa por um especialista, considerando as características da lesão, o perfil do paciente e as evidências científicas atuais.
Os avanços nas técnicas cirúrgicas e na compreensão da biomecânica do joelho têm permitido abordagens cada vez mais personalizadas, com foco na preservação do tecido meniscal e na função a longo prazo.
Se você apresenta sintomas sugestivos de ruptura do menisco medial, como dor localizada, inchaço e limitação de movimentos, busque orientação ortopédica especializada para diagnóstico preciso e discussão sobre as opções de tratamento mais adequadas ao seu caso.
Vale ressaltar que cada caso é único, e a decisão sobre se a ruptura do menisco medial precisa de cirurgia deve ser tomada em conjunto pelo paciente e seu médico, considerando todos os aspectos individuais e as melhores evidências disponíveis.
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