A patela do joelho solta, também conhecida como instabilidade patelar ou luxação da patela, é uma condição que afeta a articulação do joelho, comprometendo significativamente a qualidade de vida dos pacientes.
Essa condição ocorre quando a patela (ou rótula) se desloca de sua posição normal na articulação patelofemoral, podendo variar de subluxações leves a luxações completas.
Com incidência elevada em adolescentes e adultos jovens, a condição exige uma abordagem minuciosa, preferencialmente por especialistas em instabilidade patelar, para prevenir recorrências e complicações a longo prazo.
Este artigo explora as causas, fatores de risco, dados epidemiológicos, métodos diagnósticos, opções terapêuticas e a importância do acompanhamento especializado, integrando evidências de estudos brasileiros e internacionais.
Epidemiologia e impacto da patela instável
A instabilidade patelar é uma das lesões mais comuns do joelho em populações jovens e ativas.
Estudos internacionais apontam uma incidência anual de 23,2 a 32,38 casos por 100.000 pessoas, com picos entre 14 e 18 anos.
No Brasil, pesquisas revelam que adolescentes do sexo feminino são particularmente vulneráveis, com risco 33% maior comparado a homens.
Essa diferença está associada a fatores anatômicos, como maior prevalência de displasia troclear (alteração no formato do sulco femoral) e patela alta em mulheres.
Um estudo prospectivo de 21 anos, realizado nos Estados Unidos, demonstrou que 15,9% dos pacientes com luxação patelar desenvolvem lesões neurológicas associadas, especialmente quando há histórico de múltiplos episódios.
Na Colômbia, a incidência chega a 187,74 casos por 100.000 pessoas na faixa etária de 14 a 18 anos, destacando a gravidade do problema em adolescentes.
Dados brasileiros complementam essas informações, indicando que 70% dos casos de patela do joelho solta recorrente estão ligados a displasia troclear e alterações na altura da patela.
Mecanismos anatômicos e fatores de risco
A patela do joelho solta ocorre quando a rótula se desloca parcial ou completamente do sulco troclear, geralmente para a face lateral.
Esse movimento anormal está associado a uma combinação de fatores:
1. Anatomia predisponente
- Displasia troclear: Presente em 92,91% dos casos de instabilidade crônica, caracteriza-se por um sulco femoral achatado ou convexo, reduzindo a estabilidade articular.
- Patela alta: Observada em 34,64% dos pacientes, eleva o risco de deslocamento devido à redução do contato entre a patela e o fêmur.
- Aumento do ângulo Q: Ângulo entre o quadríceps e o tendão patelar acima de 15° em mulheres e 10° em homens, comum em joelhos valgos.
2. Traumas e atividades esportivas
Mais de 60% das luxações ocorrem durante práticas esportivas, como futebol, basquete e dança.
Movimentos de rotação interna do fêmur com o pé fixo no chão são os principais desencadeadores, principalmente em atletas adolescentes.
3. Hiperlaxidade ligamentar
Pacientes com síndromes como Ehlers-Danlos ou Marfan apresentam risco aumentado devido à frouxidão dos ligamentos femoropatelares.
Sinais e sintomas
Na primeira ocorrência de luxação da patela, os sintomas são bastante característicos:
- Dor intensa e aguda, principalmente na porção medial (interna) e anterior do joelho.
- Sensação de que o joelho “saiu do lugar”.
- Incapacidade de locomoção própria.
- Inchaço súbito devido ao derrame articular (acúmulo de líquido).
- Bloqueio articular (dificuldade para flexionar o joelho).
- Estalido audível no momento do trauma.
Quando a condição se torna recorrente (patela do joelho solta crônica), os pacientes frequentemente relatam:
- Fraqueza ao redor do joelho.
- Sensação de instabilidade ou de que a patela “quase” sai do lugar.
- Insegurança para praticar esportes ou realizar atividades como dançar.
- Falseios leves durante movimentos cotidianos.
- Dor anterior no joelho.
Diagnóstico: integrando exame físico e imagens
O diagnóstico da patela do joelho solta requer avaliação clínica detalhada e exames de imagem. Durante o exame físico, ortopedistas buscam sinais como:
- Sinal de apreensão: Dor e resistência ao empurrar a patela lateralmente.
- Teste de mobilidade patelar: Deslocamento superior a 50% da largura da patela indica instabilidade.
Exames de imagem são essenciais para confirmar alterações anatômicas:
- Ressonância magnética: Identifica lesões do ligamento femoropatelar medial (LFPF) em 95% dos casos agudos e avalia danos à cartilagem.
- Radiografia em perfil: Mede o índice de Caton-Deschamps para detectar patela alta (valores > 1,2).
- Tomografia computadorizada: Calcula a distância tubérculo tibial-tróclea (TT-TG), com valores acima de 15 mm indicando alto risco de recorrência.
Abordagens terapêuticas: do conservador ao cirúrgico
Tratamento conservador
Indicado para primeiros episódios sem lesões osteocondrais:
- Imobilização por 3-6 semanas para cicatrização do LFPF.
- Fisioterapia: Programas focados no fortalecimento do quadríceps e controle neuromuscular reduzem recorrências em 56% dos casos.
- Órteses de realinhamento: Joelheiras com estabilização lateral melhoram a congruência articular.
Estudos mostram que 15-44% dos pacientes tratados conservadamente desenvolvem recidivas, especialmente aqueles com fatores anatômicos predisponentes.
Tratamento cirúrgico
Recomendado para instabilidade recorrente ou lesões estruturais graves:
- Reconstrução do LFPF: Técnica preferencial, com taxa de sucesso de 88-96% e recorrência de apenas 11,7%.
- Trocleoplastia: Correção cirúrgica da displasia troclear, restabelecendo a anatomia do sulco femoral.
- Osteotomia tibial: Realinhamento do tubérculo tibial em casos de TT-TG aumentado.
Um ensaio clínico randomizado comparando abordagens conservadora e cirúrgica demonstrou que pacientes operados tiveram 50% menos recidivas e retorno mais rápido às atividades esportivas.
A importância do especialista em instabilidade patelar
Consultar ortopedistas com experiência em patologias femoropatelares é indispensável para resultados positivos.
Estudos brasileiros destacam que pacientes com duas ou mais luxações têm 50% de risco de novos episódios, muitas vezes associados a danos irreversíveis à cartilagem.
Especialistas utilizam protocolos personalizados, combinando avaliação biomecânica, correção anatômica e reabilitação funcional.
Além disso, 17% dos casos não diagnosticados adequadamente evoluem para artrose femoropatelar precoce, reforçando a necessidade de intervenção precoce.
A artroscopia, por exemplo, permite identificar e tratar lesões associadas, como fragmentos osteocondrais, presentes em 25% dos traumas agudos.
Prognóstico e recuperação
O prognóstico varia significativamente dependendo da abordagem terapêutica escolhida. Após tratamento cirúrgico, a recuperação geralmente exige:
- 3 a 6 semanas de uso de muletas e imobilização do joelho.
- Programa de reabilitação progressiva.
- Retorno às atividades normais em aproximadamente 3 meses.
A taxa de satisfação após a reconstrução do LPFM é alta, com estudos mostrando que 96,08% dos pacientes fariam a cirurgia novamente.
Conclusão
A patela do joelho solta é uma condição multifatorial que exige diagnóstico preciso e tratamento individualizado.
Dados epidemiológicos nacionais e internacionais destacam a vulnerabilidade de adolescentes e jovens adultos, sobretudo mulheres.
Embora o tratamento conservador seja eficaz em casos iniciais, a cirurgia oferece resultados superiores em pacientes com fatores de risco anatômicos.
O ideal é agendar uma consulta com um médico ortopedista especializado em lesões na patela, pois além de reduzir as taxas de recidiva, também previne complicações crônicas, garantindo melhor qualidade de vida e retorno seguro às atividades diárias.
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